quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O retorno do rei


Uma vez tive a petulância de cravar: Clint Eastwood é o melhor diretor em atividade. Isso foi há dois anos. E, no mesmo comentário, preteri a Francis Ford Coppola. Tudo porque o renomado diretor norte-americano - que nos brindou com a obra-prima O Poderoso Chefão (1972), entre outros - andava um pouco sumido das grandes telas; já Eastwood surgia com, pelo menos, um filme anual para o nosso deleite. Clint ficou um pouco chato - vide os razoáveis e sonolentos Invictus (2009) e Além da Vida (2010). Já Coppola está de volta à velha forma com o competente Tetro.

Coppola é um diretor reservado, tratando-se de filmes. Nos últimos dez anos, só laçou um longa-metragem, o que ressalta a sua preocupação com o roteiro que colocará para rodar. Agora, depois do ostracismo, o veterano diretor retorna com um assunto que ele próprio já tratou: a relação fraternal. Em O Selvagem da Motocicleta (1983) a ligação entre o irmão mais novo que quer ser igual ao irmão mais velho dá a tônica do filme. E em Tetro ocorre algo parecido.

O filme se passa inteiramente em Buenos Aires e na Patagônia. Bennie (interpretado por Alden Ehreinreich) é um rapaz próximo de completar 18 anos que trabalha em um navio. Porém, devido a problemas, a embarcação acaba parando na Argentina. Ele aproveita a forçada estadia para procurar Tetro (interpretado por Vincent Gallo), seu irmão mais velho - este se recolheu na capital portenha a fim de tirar um ‘ano sabático’. Mas para o espanto de Bennie, seu irmão o trata como um parente de sangue apenas em locais reservados: na frente dos conhecidos, o chama de amigo. Tentar entender o porquê Tetro fugiu do seio familiar, e qual motivo o levou a renegar a família serão os desafios do jovem rapaz.

Há ainda mais um mistério no filme: a relação de Tetro com o "maioral", no caso, o pai tanto dele quanto de Bennie. Ali se constrói um elo de ligação às avessas entre Tetro e o Pai, interpretado pelo veterano - e sempre soberbo - Klaus Maria Brandauer. Os diálogos pesados entre os irmãos e a obscuridade dos motivos que levaram Tetro a construir uma nova identidade ditam o ritmo da trama. Outra parte importante do filme é a mulher de Tetro, Miranda (interpretada pela linda, e convincente, Maribel Verdú, de E Sua Mãe Também - 2001): ela se torna uma espécie de pilar de sustentação na vida do protagonista, cuidando da saúde mental dele.

O mega-diretor retorna com uma trama interessante e uma direção fantástica. Inverte-se aquilo que é tradicional. O filme é rodado em preto e branco com uma maestria única, contendo tomadas de luz fantásticas que deixam o longa-metragem com ar de filme noir. O contraste das cores impressiona. A cena de amor entre Tetro e Miranda nos trás a classe com que Coppola se dedicou ao filme, com o corpo da atriz sendo coberto pela luz negra. E todas as lembranças tanto de Tetro quanto de Bennie são coloridas, o que deixa a narrativa mais interessante. Como é bom ver Francis Ford Coppola de volta. Os cinéfilos comemoram, em tempos de tecnologia de ponta, mas sem conteúdo.

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