quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O País não tem como se antecipar às tragédias? Relaxa, o jeitinho brasileiro resolve!

O Rio de Janeiro enfrenta, pelo segundo ano consecutivo, problemas com as chuvas de verão, já contumaz no Brasil. Dessa vez a tragédia foi sem precedentes: mais de 850 mortos e aproximadamente mais de 500 pessoas desaparecidas na região serrana do estado fluminense (números que poderão aumentar). Segundo informações das Organizações das Nações Unidas (ONU), trata-se da décima maior tragédia envolvendo deslizamento de terra no mundo em todos os tempos. Uma tristeza que assolou o início de 2011 do povo carioca e do Brasil. Porém, em termos. Aliás, essa fatalidade escancarou velhos problemas que só a mais ingênua pessoa não conseguia enxergar.

O ‘show’ de descaso começou a alguns quilômetros de distância dos deslizamentos. No mesmo dia em que os bombeiros e voluntários iniciavam sua batalha para tentar salvar vidas, no bairro da Gávea um acontecimento importante, porém, em momento inoportuno, ocorria: Ronaldinho era apresentado no Flamengo, enquanto que o desespero tomava conta de Teresópolis e demais municípios próximos. Quase 20 mil pessoas se espremeram no acanhado estádio do clube para ver a apresentação do ex-craque. Enquanto isso, pessoas sofriam com as consequências das chuvas que castigavam a cidade. Isso é mais uma prova que de hospitaleiro e bondoso o brasileiro tem é muito pouco. Além do quê, dinheiro é tempo aos empresários.

Mas como o futebol é a ‘coisa mais importante entre os assuntos menos importantes’, consegue-se dar um alento a esta falta de sensibilidade da senhora Patrícia Amorim – presidenta do Flamengo – e das pessoas envolvidas na apresentação inoportuna. Precisa-se ficar atento com os principais detalhes do acontecimento.

Os deslizamentos atingiram diversas casas que se encontravam próximas às encostas de morros. Simplesmente um convite para a tragédia. Podemos entender que pessoas pobres venham a escolher locais como esses para morar por falta de condições financeiras para morar em outros lugares. Mas qual a justificativa para que pessoas abastadas mantivessem casas em locais de alto perigo? A mesma causa dos pobres: o simples fato de não pagarem os impostos que o governo impõe. Com essa apropriação, os donos dos imóveis simplesmente fugiam de suas responsabilidades como cidadãos. Mas eles podem, por que não, culpar o governo pelo desastre, afinal, alguns políticos e pessoas influentes mantinham suas próprias casas lá também; ou seja, não desapropriaram a área porque não era conveniente a eles.

Dois dias depois da chuva que culminou nos deslizamentos de terra, o vice-governador do Rio de Janeiro, o senhor Luiz Fernando Pezão declarou que “a maioria não era de risco”, em relação aos locais atingidos. Bom, se os locais eram incólumes, por que então essa quantidade de vítimas fatais e de tantos desaparecidos? Alguém precisa avisar ao vice-governador que imóvel perto de morro, perto de vulcão, perto de aeroporto, sempre será área de risco. Ou seja, colocar a culpa na chuva, ou em São Pedro, ou em São Cosme Damião, ou no Bin Laden não funciona mais.

Em declaração ao jornal O Estado de S. Paulo, a consultora da ONU para desastres naturais, a senhora Debarati Guha-Sapir, proferiu as frases mais sensatas declaradas até agora: “Brasil não é Bangladesh. Não tem desculpa (para o ocorrido)”. Uma pessoa plena de suas consciências, que está neste mundo apenas para contribuir com o bem estar da sociedade e da comunidade, sabe que não tem mesmo desculpas para tanta falta de preparo. Que a secretária está correta, não se tem dúvida. Mas o equívoco dela está na parte onde diz que o Brasil não é igual ao pobre país asiático: o ‘gigante sul-americano’ consegue ser pior que Bangladesh, e não são em poucos casos. A crônica de várias tragédias anunciadas está estampada em cada esquina das cidades do país. Os acontecimentos na região serrana do Rio escancaram a falta de preparo de todo mundo: autoridades, bombeiros e policiais, imprensa, transeuntes, etc. E ainda tem motorista, que deveria transportar as doações, desviando os donativos para si próprio.

Porém, uma notícia finalmente agradou aos ouvidos das pessoas que fiscalizam e se preocupam com uma nação mais justa e digna a todos. A notícia não é nada animadora, mas, só assumir o erro já é um início: o Brasil declarou à ONU não ter a capacidade de lidar com tragédias desta magnitude. Seus centros de inteligência apenas engatinham àquilo que é esperado, que é o da prevenção antes da ocorrência das tragédias. Admitir esse fato é uma prova de que os governantes tupiniquins estão começando a se preocupar com os desastres naturais e com outras possíveis tragédias. Mas também tem um problema chamado Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016: daí a preocupação em não arranhar a imagem da sede durante estes eventos.

Aliás, o Brasil não está preparado para alertar a população sobre problemas, tampouco educa a população para que se sobressaiam diante do acontecimento. Como exemplo, se hoje um prédio arder em chamas muitas pessoas ou vão se atropelar nas escadas de emergência, ou irão até tomar o elevador, tamanha a falta de preparo para enfrentar as tragédias. Os deslizamentos de terras ao longo dos anos, as enchentes, entre outros, nos provam isso.

As cenas da tragédia no Rio são impactantes até para a mais fria pessoa. Ver a mulher sendo resgatada por uma corda por dois corajosos rapazes arrepia e emociona. Estes sim souberam justificar a fama de que brasileiro é solidário. Por estas pessoas ainda caio na sandice de acreditar no Brasil. Como eu ‘odeio’ esses cidadãos, que ‘acabam com a minha alegria’. Mas a brasilidade transborda com eles. Porque transbordar com as enchentes não traz muitas boas lembranças.

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