segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A cidadania à procura de uma voz

Quem está habituado a utilizar o metrô na cidade de São Paulo sabe da desventura que é tomá-lo em determinados horários durante a semana. Em algumas estações, torna-se uma verdadeira epopeia tentar embarcar em algum vagão da companhia, devido ao volume de pessoas que circula nos horários de ‘pico’. Atualmente, ocupa a faixa das 7 às 10 horas, e das 17 às 20 horas. Em parte, é problema criado pelo próprio governo estadual ao construir as linhas mais antigas, na década de 1970 e 1980, sem o planejamento e a infraestrutura necessários para que as pessoas não se atropelem no afã de adentrar em um trem da companhia.

Mas nem tudo é culpa do governo. Muitos dos absurdos que ocorrem nos horários de maior movimentação entre os usuários do metrô são suscitados pelos próprios frequentadores. A essas pessoas lhes faltam um requisito básico na cartilha da cidadania: educação. Claro que este conceito era de dever do Estado em ser transmitido, mas nem sempre – ou nunca – é feito. Entretanto, desculpas são sempre inventadas para justificar os erros; existem diversas pessoas que não tiveram a educação vinda dos governos, mas mesmo assim, foram criadas com bons costumes em suas casas.

Há alguns dias peguei o Metrô em uma estação localizada na Av. Paulista. E a voz que anuncia recados para os usuários era de uma mulher, uma voz fanha, beirava o irritante. Mesmo assim, somente dicas de como se utilizar bem as dependências do metrô e seus vagões de trens. Ao embarcar rumo a uma estação da linha Azul – as estações da Av. Paulista são da linha Verde – entraram, juntos comigo, um casal de amigos. O rapaz ouvia atentamente o que a moça, uma japonezinha, falava. Ela se queixava da voz da mulher do alto-falante.

“Nossa, que mulher mais irritante essa”, disse a moça oriental, “que voz insuportável”. Sim, concordei: realmente a mulher que dava dicas, como não segurar as portas do trem para evitar atrasos, não era das mais suaves, não era uma Íris Lettieri. Contudo, o fato que chamou a atenção foi outro. Após mais uma dica transmitida pela voz do alto-falante – que era sobre entrar com calma nos vagões para não causar empurrões e causar acidentes entre os passageiros -, a japonezinha virou-se para o seu amigo e disse: “Ela pensa que é fácil pegar um Metrô às 6 horas da manhã”. Parei e refleti sobre a frase da passageira.

À japonezinha eu respondo por aqui: seria fácil sim pegar um trem às 6 horas da manhã, na estação Sé, inclusive, caso as pessoas, ao invés de se preocupar com o tom da voz da narradora, ouvisse o que a mesma tem a dizer com as suas dicas. Procurar os defeitos é sempre mais fácil do que ouvir – e aplicar - o que realmente é necessário. Seria mais fácil pegar o metrô, às 19 horas, sim, se todas as pessoas prestassem a atenção nas informações dos serviços de alto-falantes.

Mas para essa utopia acontecer, é necessário que o cidadão esteja disposto a aprender. Tudo depende da disposição do ser humano em ouvir. Ter ou não a vontade de ouvir o que está sendo transmitido, ao invés de sair desferindo xingamentos sem uma pausa para uma reflexão. Sem uma autocensura, fica difícil de acreditar que somente o Estado é responsável pela falta de respeito nas linhas de trens e do metrô. E ainda sempre tem aquele casal, com dois filhos pequenos, que esperam na plataforma de embarque a chegada do trem e a abertura das portas, para saírem correndo iguais a dois animais irracionais por uma cadeira para viajar sentados, empurrando e se espremendo como se estivessem no Haiti em busca de alimento com missões humanitárias da ONU.

Uma enxurrada de deslizes e de falta de cidadania, fazendo com que o metrô fique a cada dia mais saturado, prontinho para a brasilidade transbordar.

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