domingo, 22 de novembro de 2009

Racismo à brasileira

O Brasil é racista. Mas assim como nossa economia, o racismo também é informal. Diferente dos Estados Unidos e da África do Sul onde o racismo estampava placas e leis de forma explícita, no Brasil o racismo sempre foi dissimulado, tanto é que dizemos que somos uma “democracia racial”. Nos Estados Unidos a população negra soma 13%, no Brasil, negros e pardos somam mais de 50%. Dizemos sem duvidar que os Estados Unidos são um país de racistas, mas qual país elegeu um presidente negro? E dizemos que nós é que somos uma “democracia racial”.
A maior metrópole negra fora da África é Salvador, na Bahia. Salvador nunca elegeu um prefeito negro. Nova York, nos Estados Unidos, de maioria branca, já elegeu um prefeito negro (David Dinkins, nos anos 90). No governo de George W. Bush tivemos dois negros importantíssimos no poder, Colin Powell e Condoleezza Rice. Um dos bancos pivôs da crise econômica atual, Merrill Lynch, foi presidido por Stanley O’Neal, um negro. E nosso presidente Lula disse que a culpa da crise econômica é dos “loiros de olhos azuis”.
No Brasil da democracia racial, a mãe de um famoso jogador de futebol sofreu sua dose de discriminação tanto racial, quanto sócio-econômica. Sim, no Brasil também odiamos os pobres, e sim, eles também são – curiosamente – a maioria da população. Quando o jogador foi contratado por um time estrangeiro e ganhou seus primeiros milhões, resolveu presentear sua mãe com um apartamento na cobertura de um luxuoso condomínio no Rio de Janeiro. Enquanto aguardava o elevador chegar, outra moradora – que ostentava sua riqueza com jóias e roupas de grife – a advertiu de que o elevador de serviço ficava nos fundos do prédio, a confundindo com uma empregada doméstica. Bem humorada, a nordestina de vestes simples respondeu “obrigado por me avisar, é que eu comprei a cobertura faz pouco tempo e ainda não conheço o prédio”. O caso ficou conhecido quando a FIAT fez um comercial usando o fato ocorrido e utilizando o slogan “está na hora de você rever seus conceitos”.
Não nos esqueçamos do breve passado obscuro europeu. No final do século XIX e início do XX houveram estudos raciais e de eugenia, onde tentavam comprovar que os negros eram inferiores aos brancos. E isso não exclui o Brasil. Um país que aboliu tardiamente a escravidão e que, no início do século XX, nas décadas de 10, 20, 30, a elite foi atraída pelo “racismo científico” europeu e adotou uma política de imigração de mão-de-obra européia branca, barrando africanos e ignorando os negros que já habitavam o país. Não nos esqueçamos, também, de que o Brasil foi um dos maiores importadores de escravos do mundo – e o maior das Américas.
Não está na hora de revermos nossos conceitos, mesmo?

Um comentário:

  1. Interessante, cara. E tão verdadeiro.
    Brasil também foi o último país ocidental a abolir a escravidão.

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