sábado, 7 de novembro de 2009

Poltrona Vermelha #02

Quando soube do lançamento do documentário "Alô Alô Teresinha" nos cinemas da capital paulista, logo veio à mente lembranças da minha infância não tão distante. Recordo-me do Velho Guerreiro e sua implacável buzina, atormentando o sossego dos calouros que se apresentavam no palco do seu programa, e que divertiam os telespectadores nas tardes de sábado, através da Rede Globo de televisão. Assisti a este documentário em uma sessão que, para meu espanto e delírio, tinha somente mais uma pessoa presente no local (espanto e delírio pois não gosto de aglomerações em salas fechadas, como as de um cinema). Fiz questão de ir ao cinema ver essa homenagem ao maior comunicador da televisão brasileira de todos os tempos. No DVD, o impacto da película seria menor, pensei. E acho que acertei.Fui assistí-lo sob pressão dos críticos de que o documentário deixava a desejar. Confesso que não li nenhum dos comentários dos especialistas, pois a vontade de rever aquela figura carismática do apresentandor era maior (e não tive tempo de ler as críticas também, confesso). Agora, com o filme visto, vou atrás dessas opiniões conceituadas e ver em quais pontos os especialistas acharam o documetário mediano. Algo que talvez eles não tenham gostado, incluo-me, é o fato do filme não tratar da vida de Abelardo Barbosa. Trata-se de um documetário sobre os programas por ele comandado e os diversos personagens que ajudaram a alegrar a vida de muitas pessoas além, claro, de falar sobre o personagem construído pelo Velho Guerreiro. Ou talvez os críticos tenham achado exagerado o espaço concedido a alguns calouros da época que foram encontrados nos atuais dias. Também concordo.Mas o documetário é muito válido. Por exemplo, é interessante ver que as assistentes de palco denominadas chacretes não se resumiam à Rita Cadillac (a única que conhecia), a mais famosa delas: várias foram essas mulheres que mexeram com o imaginário masculino e que causaram inveja àsmuitas esposas da época. Aliás é muito importante, para quem se interessar pelo filme, atentar-se como estão vivendo, atualmente, essas personagens que fascinaram a geração do meu pai e outras gerações também. O modo como elas guiaram suas vidas após a morte de Abelardo Barbosa, quem conseguiu se manter bem, quem não saiu da mídia, quem caiu no ostracismo, quem não soube aproveitar as oportunidades dadas a elas. Uma verdadeira lição de vida para todos. Ainda sobre as chacretes, o espectador mais ligado notará que as "Dani Bananinhas" ou "Mulheres-Samambais" que têm na televisão de hoje devem muito, devem tudo, e mais um pouco, a essas mulheres.Pegando carona na famosa frase de Velho Guerreiro, na qual ele dizia que "na televisão, nada se cria, tudo se copia", ver os formatos dos programas por ele comandado e comparando-os com os de hoje, notar-se-a diversas semelhanças, como atrações, cenários, posicionamento de câmeras, contra-regras, entre outros. O único aspecto que diferencia os programas atuais com os de Abelardo Barbosa é o próprio Abelardo Barbosa! Seu jeito de conduzir o programa, comandar a plateia, seu personagem caricato, seu jeito de palhaço, sua incrível capacidade de improvisação quebrando qualquer tipo de roteiro ou protocolo ao vivo!, o transformou no maior ícone da comunicação da televisão brasileira.Quanto aos artistas, a princípio, só notei a falta dos Titãs, frequentadores assíduos do programa na década de 1980. De resto, está todo mundo registrado: o Rei, Wandelei Cardoso, Jerry Adriani, Baby Consuelo, Clara Nunes, entre muitos outros. Aos fãs de "toca Raul", relaxem, o homem também está lá, em um resgate histórico de um programa onde ele se apresentou, na extinta Tv Tupi, no início da década de 1970. Os amigos da minha faculdade devem estar não só se perguntando quem é Jerry Adriani e esses outros cantores acima citados, como também, por que não citei artistas como Ivete Sangalo ou bandas como o Skank. A todos só peço calma! pois Abelardo Barbosa, junto com o seu programa, morreu em 1988. Vários de vocês, caros amiguinhos, nem projetinhos eram ainda. Mas como bons profissionais que desajarão ser, assistir a este documetário e entender um pouco da história da televisão é de grande valia.As pessoas que me conhecem ficaram na dúvida: como assim o documentário me fez lembrar da minha infância? Simples, companheiros: lembro-me do cenário do programa, lembro-me das extravagantes fantasias utilizadas e dos bordões improvisados pelo Velho Guerreiro, e de alguns outros detalhes (que são poucos). Tinha apenas 8 anos quando o programa acabou. São resquícios de memória de uma época em que o país sofria com o alto índice de inflação, fantasma que assombrava a nação, além de um tempo em que o Brasil ainda aprendia a viver em uma democracia, mas que tinha, nas tardes de sábado, um alento para as mazelas daquela época. Uma alegria cativante que prendia o telespectador na poltrona, fazendo o povo gargalhar e se esquecer, por alguns instantes, de todos os problemas existentes. Essa alegria atendia pelo nome de José Abelardo Barbosa de Medeiros, o"está com tudo e não está prosa", Chacrinha!p.s.- Mas afinal, quem é a tal de Teresinha? Só assistindo ao documentário, minha gente!

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