sexta-feira, 6 de novembro de 2009

The Good, the bad & the blasé

Tarantino me instiga. É desses que sempre me faz pensar, não na estória, ou na moral, ou na ética, ou no sofrimento das personagens. Tarantino não me faz chorar, nem sentir pena. Me faz pensar. Pensar em cinema. Penso que ele faz filmes para quem gosta de cinema, não para quem gosta de ir ao cinema comer pipoca.
Inglourious Basterds, seu novo filme, me fez ir ao cinema. Duas vezes. Minto. Quem me fez ir duas vezes ao cinema foi um trabalho. Mas, de qualquer maneira, ver o filme duas vezes foi ótimo. Muitas coisas passaram pela minha cabeça. E, por fim, surgiu uma teoria. Explico.

Tarantino é fã de Sergio Leone. Eu sou fã de Sergio Leone. Sergio Leone foi (ele já morreu) um diretor de cinema italiano que ganhou fama nos Estados Unidos com três Spaghetti Westerns: Per un pugno di dollari (Por um punhado de dólares) de 1964, Per qualche dollaro in pìu (Por uns dólares a mais) de 1965 e Il buono, il brutto, il cattivo (Três homens em conflito) de 1966. Por um punhado de dólares é uma refilmagem de um filme de Akira Kurosawa, chamado Yojimbo, de 1961. Na história original que se passa na época feudal japonesa, Sanjuro - um ronin - se vê numa cidade onde duas famílias disputam o poder de controle da cidade, e Sanjuro resolve trabalhar de guarda-costas para o líder de uma família e, um dos inimigos possui uma pistola. Em Por um punhado de dólares, o estranho sem nome (sim, ele não tem nome mesmo), interpretado por Clint Eastwood, se vê numa cidadezinha onde duas famílias disputam o poder pelo controle. Ele resolve arranjar trabalho com as duas famílias e fazer as duas entrarem em conflito, destruindo-as, em benefício próprio, além disso, um dos inimigos possui uma espingarda. Depois dessa refilmagem, Leone deu continuação na saga do estranho sem nome em Por uns dólares a mais e Três homens em conflito. Na época os filmes fizeram certo sucesso, mas só depois que ganharam status de cult. Para os três filmes Ennio Morricone fez as trilhas sonoras. Morricone era outro ilustre desconhecido até então, apesar de ter gravado muitas coisas na Itália. Quão relevante ele é hoje? Os Ramones usavam o tema principal de Três Homens em conflito como abertura de seus shows. O Metallica usa até hoje a música The Ecstasy of Gold, também de Três homens em conflito, como introdução de seus shows. Inclusive, ano passado foi produzido um tributo à Ennio Morricone, e o Metallica participa do tributo tocando exatamente The Ecstasy of Gold. Além do Metallica, YoYo Ma, Quincy Jones, Herbie Hancock, Daniela Mercury, Celine Dion, Bruce Springsteen, participam do tributo com regravações de músicas de Morricone que fazem parte da trilha sonora de famosos filmes. Pasmem, Morricone nunca ganhou um Oscar de melhor trilha sonora. Além disso, ano passado, Ennio Morricone em pessoa, veio até o Brasil para algumas apresentações de suas mais famosas músicas de trilhas sonoras.
Desses três filmes, o mais famoso é Três Homens em Conflito. A história de três homens em busca do ouro da guerra. O filme se passa na guerra civil americana, e um soldado confederado esconde 200 mil dólares numa cova de um cemitério. Angel Eyes (O mau), sabe que esse soldado tem os 200 mil. Tuco (o feio), sabe que o dinheiro está escondido em um cemitério. Blondie (o bom), sabe em qual túmulo está enterrado o dinheiro. A estória se desenrola com Tuco e Blondie se aturando, pois um precisa do outro para chegar ao dinheiro. Enquanto isso, Angel Eyes se infiltra no exército do norte, trabalhando em uma prisão, na esperança de encontrar o soldado confederado que escondeu o dinheiro. No fim, os três se encontram no cemitério e acontece uma das cenas mais tensas do cinema, o duelo à três. O bom, o mau e o feio, cara à cara... à cara.
E aí chego em Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino. E minha teoria é essa: Inglourious Basterds é o The good, the bad and the ugly de Tarantino.
O bom - Tenente Aldo Raine - participa da Operação Kino, sua missão é infiltrar-se no cinema onde ocorrerá a estréia do filme "O Orgulho da Nação", e explodir o lugar com Hitler dentro. O mau - Coronel Hans Landa - se mostra um competente "caçador de judeus", e diz que, na verdade, é apenas um bom detetive e que presta seus serviços ao Füher, e só pensa em si mesmo, no final, rende-se aos americanos em troca de tornar-se herói de guerra. E a feia - na verdade, a blasé - Shosanna, ou, Madamme Mimieux, que pretende vingar a morte de sua família incendiando o cinema lotado de nazistas. Os três, então, possuem, no fim, uma mesma meta: encerrar a guerra. Seus motivos podem ser diferentes, mas o fim é o mesmo. O ouro que eles perseguem é a cabeça de Hitler.

Curioso como um filme pode influenciar tanto, não?

2 comentários:

  1. A cada aula de cinema observo o que é a influência...

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  2. Chega a ser medonha a influência... ou será que é medonho viajar nessas interpretações?

    Cara... o que quer que seja, vá lá... agora estou cá curiosa pelo filme...

    Au revoir!

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