A Ana, quando classificada pela brasilidade de ufanista, diz ser contrária a esse adjetivo - ela diz ser apenas uma amante do Brasil, e que problemas acontecem em qualquer país do mundo - mas, no fundo, é uma ufanista de marca maior. Por incrível que pareça, amo o Brasil. Afinal, nasci, cresci, e aprendi, aqui. O maior país da América do Sul possui liberdades que são cerceadas em outras nações. Nem me imagino sendo um cidadão chinês, tendo o conteúdo da internet limitado pelo governo, por exemplo. Ou ser um cidadão iraquiano, em meio a uma guerra que provavelmente não queria estar.
E meus amigos próximos sabem do meu esforço para pôr "panos quentes" em diversas notícias contrárias à moralidade e o bom-senso. Mas, minha estimada Ana, e caro leitor, não posso deixar passar dois acontecimentos que fazem reforçar meus ideais contra essa dissonância abissal que existe entre o que é certo e o que é malandragem (entendam por safadeza). Só não me deixa chocado porque já vi presidente da república roubar a população na maior cara de pau e receber, como "punição", apenas a perda do mandato, quando deveria ter passado, no mínimo, 30 anos na cadeia.
O primeiro caso vem do Rio de Janeiro. Em 2007, um menino de 6 anos, João Hélio, durante um assalto ao carro onde estava, ficou preso ao cinto de segurança e acabou sendo arrastado por alguns metros pelos bandidos que levaram o veículo de sua mãe. Morreu na hora. Um dos bandidos tinha 16 anos, o que pela legislação, não poderia ser julgado como adulto. Nesta semana, já com 19 anos, foi solto, e ainda por cima, ganhou outra identidade, a fim de que não seja reconhecido e, consequentemente, assassinado. Que país é este que permite um jovem de 16 anos eleger governantes e, ao mesmo tempo, protege um assassino cruel que destruiu uma família inteira, a do menino João Hélio? Para mim, isso chama-se incoerência. Dentro da esfera nacional, nesta semana, quem deveria ter a identidade trocada e proteção policial não era esse bandido, mas sim, a funcionária de uma casa lotérica no Rio Grande do Sul que não registrou o bilhete que acabaria sendo premiado, destruindo os sonhos de cerca de 40 apostadores que tiveram seu bilhete sorteado, mas não levarão 1 centavo de prêmio. O erro dessa moça foi grave, mas alguém aí nunca errou na vida?
O outro caso, de tão absurdo e patético que foi, torna-se bizarro. Na cidade de Ivinhema, a 345km de Campo Grande, uma mulher de 32 anos perdeu o seu bebê durante o parto. Motivo? Uma briga envolvendo o médico escolhido pela mãe para realizar a cirurgia e o médico plantonista no momento! Enquanto os dois batiam boca e se estapeavam, talvez por ciúme, sei lá, o bebê não resistia e acabaria vindo ao mundo já morto. Esses dois idiotas foram demitidos do hospital. Mas só isso? O que eles fizeram não é um assassinato? Não deveriam ser julgados por crime?
Minha querida amiga Ana, estamos esperando seu texto etéreo sobre o "maravilhoso" Brasil que você tenta nos vender. Este país que inocenta bandidos, que premia parlamentares desonestos, que há anos não consegue erradicar a epidemia de dengue, que deixa passar os casos mais absurdos que se possa imaginar. Mas, Deus é brasileio, não é? A bandalheira está debaixo dos nossos narizes, mas é muito melhor pular carnaval e dançar o "Rebolation", do que se preocupar com a moralidade e os bons costumes, certo?