Interlagos. 18 de outubro. 34 graus na pista. Rubens Barrichello na pole position. Jenson Button em 14º lugar. Penúltima corrida da temporada 2009. Barrichello só precisava vencer essa corrida e seu parceiro Jenson Button não pontuar, para a disputa pelo título ficar para a última corrida em Abu Dhabi. Mas parece que Interlagos não estava para Barrichello.
No sábado 17, debaixo de muita chuva e um atraso histórico, Barrichello fez o melhor tempo e ficou com a pole position. Uma atuação perfeita do piloto brasileiro que nunca foi campeão. Com 17 anos de carreira na Fórmula 1, 287 grandes prêmios disputados, Barrichello só ergueu a taça de primeiro colocado 11 vezes, apenas. Um piloto que ficou nas sombras de Michael Schummacher na Ferrari por anos, conquistou a admiração dos brasileiros novamente quando entrou para a estreante equipe Brawn GP.
Numa era em que a tecnologia se mostra mais fundamental que a habilidade do piloto, Barrichello conseguiu figurar entre os primeiros colocados na classificação graças ao trabalho primoroso da Brawn GP com o desenvolvimento do carro. Não só ele, mas seu parceiro Jenson Button, também. Com 10 anos de carreira, Button já ergueu a taça de vencedor 7 vezes, sendo 6 só neste ano. A equipe Brawn GP fez um excelente trabalho em sua estréia, tendo seus dois pilotos disputando pelo título de campeão mundial.
Mas aí chegou o grande prêmio de Interlagos. O Autódromo José Carlos Pace estava abarrotado. Os ingressos se esgotaram ainda em 2008. O público foi em peso prestigiar a excelente atuação de Barrichello. Mas de novo, não foi a vez dele. E parece que a nossa brasilidade é contagiosa, pois esta corrida foi de uma brasilidade sem tamanho. Daniela Mercury deu o tom, cantando o hino brasileiro com um arranjo voltado para o Axé, e deu-se início ao 16º grande prêmio de 2009.
Logo na primeira volta um acidente. Jarno Trulli se enrosca no Laranjinha e tira Adrian Sutil da corrida. Os dois se desentendem, um aponta o dedo na cara do outro, discutem, quase saem no tapa. Já nos boxes, quando Kimi Raikkonen estava saindo dos boxes da Ferrari, Heikko Kovalainen sai dos boxes da Renault levando a mangueira de combustível junto, espirrando combustível no carro de Raikkonen, que, com o calor do motor, criou uma bola de fogo. Parecia um filme do Michael Bay, com explosões e garotas bonitas ao redor. O grande prêmio do Brasil parecia um episódio da Corrida Maluca.
Mas nem largando na pole, e tendo seu companheiro e rival largando na 14ª posição, Rubinho conseguiu adiar a disputa. Ross Brawn, dono da equipe, deixou bem claro que nessa disputa não havia favoritos, a disputa era honesta e limpa. E Jenson Button levou a melhor. Largando lá trás, Button pulou logo para a oitava posição, onde encontrou forte resistência do estreante Kobayashi, que deu um show em Interlagos. Mas mesmo assim, logo pulou para a zona de pontuação e conseguiu manter-se por lá. Já Barrichello, segurou muito bem seu primeiro lugar, mas aí a situação piorou pro brasileiro. Depois da segunda parada no pit-stop, Barrichello foi surpreendido com um pneu furado, que o forçou a fazer uma terceira parada. Aí o bolo desandou, o leite azedou. Button pulou para a 5ª colocação e Barrichello conseguiu um 8º lugar, somente. A disputa acabou ali. Com o 5º lugar, Button acumulou 89 pontos, contra 72 do brasileiro.
Foi uma vitória merecida, mais para a equipe Brawn GP, do que para Jenson Button. Muitos disseram que criar uma equipe de Fórmula 1 era loucura, mas Ross Brawn não deu ouvidos aos pessimistas. Em seu ano de estréia a equipe já conquistou um campeonato mundial de pilotos e de equipes. Agora resta a Barrichello conseguir o vice-campeonato para a equipe na última corrida do ano, em Abu Dhabi. De vice-campeonatos o brasileiro entende. Em 2002 e 2004 ele foi vice-campeão com a Ferrari ao lado de Schummacher. Como disse alguém, Barrichello só foi Barrichello, no domingo.